Gabriel O Pensador, o rapper mais consagrado do cenário nacional, avalia seu último álbum, quase um ano após o lançamento, e conta as principais mudanças no cenário da música.
O álbum "Antidoto Pra Todo Tipo de Veneno" quebrou um hiato de 11 anos sem nenhum lançamento do artista, e chegou às plataformas digitais celebrando um momento ainda mais consciente do rapper.
Ele explicou que o intervalo entre o último álbum e o antecessor, Sem Crise (2012), foi por conta da forma como as pessoas estavam consumindo música. “Eu tive a sensação de que o formato álbum já não estava tendo a atenção merecida e as pessoas estavam muito na onda do single,” explica.
Apesar de faixas do álbum como “Linhas Tortas” e “Solitário Surfista/Surfista Solitário” performarem bem, Pensador entendeu que era o momento de se adaptar ao modo como se estava vivendo a música digital.
Foi então que Pensador mergulhou de cabeça e produziu durante esse período trabalhos como “Passaporte para a Fé”, em parceria com Gustavo Macacko, “Deixa Queimar”, com Amanda Coronha, “Tô Feliz (Matei o Presidente) 2”, “Fé na Luta”, com Taís Alvarenga e “Chega.” O rapper conta que durante a pandemia também lançou faixas: “Gravei com a Ivete (os dois lançaram juntos a canção “Aglomeração a 2”), e com Cynthia Luz (“A Cura Tá no Coração”).”
O artista explica que um dos motivos que o levou a lançar um trabalho mais robusto foi ter notado que esse tipo de formato voltou a ser apreciado, mesmo que digitais. O principal motivo, no entanto, apesar dos mais de 10 singles lançados neste período, foi bem simples, segundo conta Gabriel. "Tinha tanta coisa para dizer que eu não saberia escolher qual era o próximo single. ‘E agora, qual vai ser o próximo tema? Eu tô escrevendo tanto. Não sei se vai ser uma letra séria, se vai ser a que falei do mar. Vamos lapidar isso aqui e fazer o álbum.”
A partir daí o desafio foi selecionar as faixas, fazendo com que elas se conectassem entre si. Dentre as músicas que integram o trabalho, há canções que já haviam sido escritas anteriormente e outras feitas pensadas no álbum. “Depois do meu último single, ‘Patriota Comunista,’ eu fui estudando alguns beats do Dree Beatmaker, fazendo algumas letras em cima deles.”
“Também já conhecia o Kevin, do Malibu Studios, que estava sempre na minha cabeça como um bom produtor. Ele me convidou para gravar uma voz lá e eu decidi centralizar a produção nas mãos dele,” conta Gabriel. Nesse momento nasce o projeto de Antídoto Pra Todo Tipo de Veneno.
O rapper resgatou algumas canções que já estavam sendo feitas há mais tempo, “Burn Babylon,” escrita em parceria e produzida por Papatinho e “Obrigado Mar Por Isso Tudo”, com André Gomes na produção. A partir de um beat do Dj Caique nasceu “Topo do Mundo/Fundo do Poço.” Houve também uma colaboração transatlântica, o rapper português, produtor e amigo de longa data, Sam The Kid produziu a faixa “Giro” em parceria com Kevin.
Gabriel também destaca um reencontro que o projeto proporcionou. O engenheiro de som responsável pelo álbum é Renato Bolonha. “Ele já tinha trabalhado comigo muitos anos atrás. Inclusive na música ‘2345meia78’ ele operou a mesa e faz uma das falas da letra: ‘Ela se mudou, casou com um delegado de polícia/Quer o número?,’” conta sobre trabalhar novamente com o amigo. “Dá para ver quando, além de ser bom, ele faz minuciosamente com vontade cada detalhe.”
Para o rapper, esse é um dos melhores aspectos da criação de um álbum: o trabalho coletivo. Nos singles o trabalho é mais efêmero, ele explica. O projeto maior permite a criação de laços entre a equipe.